É interessante como alguns cantores, em razão de suas ideologias religiosas, resolvem, por conta própria, modificar as letras de algumas músicas, simplesmente porque elas remetem, citam expressões afros e ou mesmo do candomblé.
É natural que cada um cante o que lhe apraz, mas daí ao cantar modificar a letra, ou mesmo excluir expressões é uma falta de respeito ao compositor ou mesmo à sua fonte inspiradora.
O que mais se notabiliza é que esses artistas se revelaram, muitas vezes, cantando o axé baiano, cuja própria palavra traduz o africanismo, o candomblé na significação, mas após relativa fama e ao aderirem alguma religião excludente e discriminatória resolvem mutilar, renegar as músicas que os projetaram.
Estamos realmente vivendo momentos difíceis, onde a intolerância tem sido a marca das relações, principalmente nos campos das identificações políticas e religiosas. E isso tem chegado a extremos tais que, via de regra, o fundamentalismo se transforma em fulcro de defesa de princípios de forma ostensiva, ou dissimulada, como tem feito alguns desses ingratos cantores do axé, quando modificam as letras que cantam, passando muitas vezes despercebidas (tais mudanças) por suas legiões de seguidores, de fãs.
Alguns podem achar bobagem, mas essas ações vão reforçando toda uma sorte de discriminação que devemos trabalhar para que deixe de existir nestes dias do século XXI. Infelizmente, o que se percebe, e aí em geral, é uma falta de brado desses cantores contra toda e qualquer forma de discriminação, uma vez que muitos deles em cima de seus trios reluzentes não se lançam em defesa de causa social alguma, por se tratarem de formadores de opinião poderiam se engajar em processos educativos, pois ainda, e muito, se agride e até se mata por questões ideológicas reprováveis. É o que penso.
* José Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal.
