Tive a subida honra, por convite das deputadas Olívia Santana e Fabíola Mansur, de participar e usar da palavra nas comemorações dos 100 anos de nascimento de Mãe Stella de Oxossi, na Assembleia Legislativa da Bahia. Oportunidade em que respondi, se alguém pensasse, por que um homem branco, não candomblecista estava tendo lugar de fala? Disse que Mãe Stella não era só do candomblé, ela havia vazado todas as raias de sua religião e se tornado referência para o mundo, de resistência e coragem. Sacerdotisa de respeito. Foi provocadora da cultura baiana, sendo a primeira mulher de santo, Yalorixá, a ser reconhecida com assento na Academia de Letras da Bahia, bem como ter recebido o título de Doutor Honoris Causa (o título é de Doutor mesmo), da Universidade Federal da Bahia. Naquela oportunidade, também verbalizei que a sacerdotisa, em encontro singelo e de relevância espiritual no Gantois, me sugeriu que fizesse ecoar a posição dela contra o sincretismo, que foi folclorizado e que não mais era necessário continuar. Sincretismo é um conceito utilizado pela cultura, em geral, mas notadamente nas religiões de matriz africana, em especial no candomblé, como forma de driblar imposições culturais e religiosas, durante a colonização. No candomblé, os orixás africanos foram sincretizados como santos católicos. Esse processo opressor está a destempo, como frisou a ilustrada mãe de Santo. Não faz mais sentido algum essa ocultação das divindades do candomblé, com os seus nomes e formas, porque foi isto que de fato aconteceu, haja vista que até hoje há esta associação.
O candomblé teve em mãe Stella o realce intelectual, cultural que esta religião merece, por toda a sua história e contribuição para a cultura, para a formação do povo brasileiro, em especial para a Bahia. Mesmo até hoje sendo satanizado, vilipendiado o candomblé é sim ancestralidade, não apenas para os negros do Brasil, mas para todo um povo. Alguns torcem a boca, mudam letras de música, mas nós, os brasileiros, guardamos a marca do dendê e que não sai com alvejante de natureza alguma. Mãe Stella era de Oxossi, mas a sua vida foi e sempre será de um legado de lutas e conquistas para todos nós.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS e o jornal atarde.
