Articles

11h20

Racismo: o crime que ainda não assusta como deveria

O episódio ocorrido em Feira de Santana, no último sábado, expôs novamente as feridas abertas do racismo no Brasil — um crime que, apesar de inafiançável e imprescritível, ainda é tratado com uma leniência social preocupante. Segundo relatos da imprensa, um desentendimento entre uma inspetora da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e um capitão da Polícia Militar (PM) resultou em uma voz de prisão por suspeita de racismo. O caso ganhou repercussão imediata, não apenas pela condição funcional dos envolvidos, mas porque reflete como o racismo se manifesta até mesmo em pessoas que deveriam zelar pela aplicação da lei.

De acordo com as informações divulgadas, o conflito teria começado durante uma partida de futebol e evoluído para uma discussão, inclusive com briga física. O capitão da PM, sentindo-se ofendido por falas de teor discriminatório, deu voz de prisão à inspetora da PRF, sob acusação de racismo. O caso segue em apuração pela Corregedoria da PRF e pelo Comando da PM, mas o episódio já serve como símbolo de algo maior: o racismo institucional que ainda permeia nossas estruturas. A inspetora foi presa e passaria nesta segunda-feira por audiência de custódia, não consegui ver divulgação alguma do resultado.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XLII, é clara ao estabelecer que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão”. Isso significa que não há fiança que liberte o autor nem prazo que apague o delito com o tempo. Ainda assim, a aplicação dessa norma parece esbarrar na dificuldade cultural de reconhecer o racismo em suas diversas formas — sobretudo quando ele se apresenta de maneira sutil, simbólica ou disfarçada de “mal-entendido”. O Brasil se orgulha, há décadas, de ser uma nação “miscigenada”, mas essa narrativa muitas vezes serve para encobrir o racismo estrutural. Casos como o de Feira de Santana mostram que o crime não se limita à esfera civil — ele alcança também servidores públicos de corporações policiais, onde o cumprimento da lei deveria ser inquestionável. Quando a ofensa parte de quem representa o Estado, o impacto simbólico é ainda mais grave, pois a vítima não enfrenta apenas o agressor, mas toda uma cultura que historicamente silencia e minimiza o racismo.


Apesar de avanços legislativos — como a Lei 7.716/1989, que define os crimes resultantes de discriminação racial, e a Lei 14.532/2023, que equipara a injúria racial ao crime de racismo —, a sensação é de que ainda não se alcançou a devida punição social e jurídica. As penas existem, mas a efetividade delas depende de reconhecimento, investigação e condenação, etapas em que o sistema de justiça muitas vezes falha.

O racismo, no Brasil, ainda não é um crime que assusta o suficiente. Não provoca o temor moral e jurídico que deveria. Em muitos casos, o autor da ofensa se sente protegido por uma cultura de impunidade, enquanto a vítima é levada a passar por inúmeros dissabores e constrangedores protocolos. É por isso que episódios como o de Feira de Santana precisam ser amplamente discutidos — não pela curiosidade em torno das patentes envolvidas, mas pela urgência de reafirmar que racismo é crime, e crime grave.

Enquanto a sociedade não tratar a discriminação racial com o mesmo repúdio que dedica a outros delitos inafiançáveis, continuaremos a reproduzir a injustiça que a Constituição quis erradicar. O racismo precisa deixar de ser apenas um tema de debate e passar a ser, de fato, uma fronteira moral intransponível, um crime inafiançável verdadeiramente.

 

José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS e o jornal A tarde.

Nenhuma mensagem encontrada!
2016 - 2025. Cidade da Luz. All rights reserved.
Powered by: Click Interativo | Digital Agency

We use cookies to frame information about how you use or our site and the pages you visit. Everything to make your experience more pleasant possible. To understand the types of cookies we use, click on Options. Ao click on Accepted, you consent to the use of cookies.

Accepted Options

Definitions

We want to be transparent about the data that we partners collect and how we use it, so that you can control how well your personal data is. To obtain more information, consult our privacy policy and our cookie policy.

Or what are cookies?

Cookies are saved files on your computer, tablet or phone when you visit a site.

We use the necessary cookies to make or site work in the best possible way and always to improve our services.

Some cookies are classified as necessary and allow central functionality, such as security, network management and accessibility. These cookies can be collected and set so that you start your navigation or when you use any resource that I require.

Manage consent preferences
Analysis Cookies

We use third-party analytics software to collect statistical information about visitors to our website. These plugins may share the content you provide to third parties. We recommend that you read their privacy policies.

Block / Activate
Google Analytics
Necessary
Strictly necessary cookies

They are those that allow you to browse the site and use essential features, such as safe areas, for example. These cookies do not store any information about you that can be used in product or service communication actions or to remember the pages navigated on the website.

Block / Activate
Site
Necessary