A crítica de Zezé Di Camargo ao SBT por lançar o SBT News com a presença do presidente da República e do ministro Alexandre de Moraes, dentre outras autoridades, inclusive governador de São Paulo e o prefeito da capital, revela menos sobre jornalismo e mais sobre o desconforto de parte do país com o contraditório. É uma reação emocional travestida de opinião pública. Convém esclarecer o óbvio: TV aberta não é TV estatal. Embora opere por concessão pública, sua raiz é privada. Isso significa autonomia editorial para decidir quem entrevistar, quem convidar e quais eventos cobrir — desde que respeitados os limites legais. A presença de autoridades não configura alinhamento ideológico, mas exercício básico do jornalismo: cobrir o poder.
Nesse cenário, a fala do cantor soa deslocada. Não se apoiou em critérios jornalísticos — como falta de contraditório, ausência de questionamento ou submissão editorial —, mas em antipatia política pessoal. Na minha modesta opinião, não havia nada de relevante a ser opinado ali. Desaprovação individual não é argumento público. Uma emissora com alcance nacional tem, sim, o dever de abrir espaço ao controverso, e ali falaram partes politicamente antagônicas. Jornalismo não existe para confortar convicções, mas para expô-las ao escrutínio. Defender que figuras públicas sejam evitadas por causarem rejeição é flertar com censura informal — aquela que não vem do Estado, mas da patrulha ideológica.
A reação nas redes seguiu o roteiro previsível: acusações de “aparelhamento”, esquecendo que o SBT já recebeu governos de diferentes espectros; e, no polo oposto, a ideia simplista de que artistas não devem opinar sobre política. Artistas podem opinar. O problema não é opinar — é opinar sem compreender o funcionamento da mídia que se critica.
No fim, a polêmica não expõe um erro do SBT, mas a dificuldade crônica do debate público brasileiro em lidar com pluralidade. Exigir silêncio, veto ou assepsia política do jornalismo não fortalece a democracia. Apenas a empobrece.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS, Farol da Bahia e o jornal A tarde.