Estamos vivendo tempos de crise em todas as direções, mas seguramente a que se torna avassaladora, causadora de grande desesperança é a moral, que se estabelece nos pequenos comportamentos, evidenciando que o ser humano está cada vez mais egoico e menos preocupado com o outro. Arthur Schopenhauer, em A Arte de Insultar, afirma que o egoísmo é gigantesco e ele rege o mundo, e assim vemos um cada um por si medonho, causador de um pessimismo generalizado no futuro das relações sociais. Surge, assim, por consequência, uma insensibilidade glacial nas almas humanas.
Talvez, ao presenciarmos tanta miséria no nosso cotidiano, tenhamos desenvolvido uma capa de frialdade, como proteção. Por outro lado, no entanto, chora-se ao assistir a um filme, comisera-se com imagens de dor, de tristeza, mas não realizamos nada para mudar o nosso entorno, posto que a nossa indignação só serve para justificar as nossas omissões.
Na contramão desta onda de insensibilidade e falta de generosidade, insurge o desembargador Salomão Resedá, que, eleito corregedor do interior do Tribunal de Justiça da Bahia, abre mão da sua gratificação, dividindo-a entre a Cidade da Luz e o Lar Vida. Ora, mais que o valor do gesto, ele ressalta a seriedade dos trabalhos realizados pelas instituições, por conhecer de perto, no exercício do Juizado da Infância e Juventude, as ações dessas casas. Gestos dessa grandeza fazem crer que a esperança ainda surge em práticas despretensiosas, mas enriquecida pelo coração aquecido de caridade. Não são teorias de púlpitos e tribunas para aplausos, mas exemplos que geram mudanças.
Lamentável, ainda, que os Poderes Públicos não conseguem descolar do infame hábito de que os recursos públicos são para a captação de boas imagens, do marketing, a fim de agregarem votos, mas também para retornar à sociedade, através de instituições sérias que soerguem a sociedade, em um grito real de esperança de que ainda há, sim, quem se preocupa com os outros.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSal e fundador da Cidade da Luz