Os baianos fizeram história na Olimpíada, a ponto de assanharem muitos políticos na tal tirada de uma casquinha, mas foi Mariene de Castro que marcou para sempre a cerimônia de encerramento da Rio 2016. Jamais será esquecida, e aquele momento de água, fogo e dourado falava muito àquela filha de Oxum.
Um bom orgulho bairrista aflora: sim, ela é baiana, é Mariene, que a Bahia não soube segurar. Foi. Infelizmente esse grande talento não teve a sua arte reconhecida em sua terra. Sei, claro, por aqui guarda uma infindável legião de fãs que sempre a prestigiou, mas as portas não foram abertas como deveriam. O seu primeiro álbum lançado em 2005 – Abre Caminho – trazia a profecia do seu encontro com o Rio de Janeiro, e eclosão de sua arte no coração do samba no Brasil.
Lembro-me com nitidez de Mariene às portas do nascimento de Maria, sua filha, convidada para participar de um prêmio no Rio ao lado do sambista Arlindo Cruz. Lá foi minha amiga cantar. Maria rompe com tudo e nasce no Rio, deixando a sua mãe em grandes dificuldades, mas os seus amigos cariocas a ampararam.
Eu disse em metáfora a Mariene que Maria protestou em voltar à Bahia, talvez por nossa terra não estar reconhecendo a arte de sua mãe na dimensão que merecia.
Na última sexta-feira, quando ela chegou à Bahia para o seu espetáculo Lindeza – maravilhoso –, tive a alegria de receber sua ligação, continua a mesma amiga atenciosa de sempre, perguntando-me se iria vê-la. Conversamos bastante, e a lembrei do aniversário de um mês de Maria, quando ela me enviou uma foto com sua bebê, diante de um bolo do tamanho de uma empada, com uma velinha em cima.
Mariene se emocionou, certamente passou um rápido filme em sua mente de todas as suas lutas para a apoteose do apagar a pira olímpica, onde o seu brilho irradiava para o mundo. Eu sabia, dizia pensando também em seu padrinho Alfredo.Não resisti, chorei e disse no misto de orgulho e felicidade, constatando:
Sim, é ela, é Mariene de Castro.