Todos temos observado como os políticos, em geral, têm se aproveitado de segmentos religiosos, em geral evangélicos, para o seu proselitismo e manipulação. De logo, claro que é legítimo que candidatos políticos busquem dialogar com diferentes segmentos da sociedade, inclusive o evangélico. O direito é inequívoco. O questionamento, porém, não recai sobre a legalidade dessa aproximação, mas sobre sua conveniência moral e sobre os métodos empregados para conquistá-la. Certamente, nesse vale tudo que se observa, o que eles menos se preocupam é com questão moral e ou ética. Todavia, cabe a reflexão entre nós reles mortais: Em muitos casos, o que se observa não é diálogo, mas encenação de fé. Discursos religiosos surgem apenas em períodos eleitorais, símbolos são instrumentalizados e líderes espirituais se transformam em cabos eleitorais informais. A religião deixa de ser expressão de crença e passa a funcionar como estratégia de marketing político.
Esse fenômeno não é novo. Gustave Le Bon, em A Psicologia das Multidões, já alertava que massas tendem a reagir mais por emoção do que por razão, tornando-se suscetíveis à manipulação simbólica. Até Hannah Arendt, ao analisar os mecanismos da manipulação ideológica, evidencia como narrativas simplificadas podem ser usadas para substituir o pensamento crítico.
Infelizmente, quando a fé é usada como atalho eleitoral, o risco é a formação de uma massa de manobra religiosa, conduzida não por convicções espirituais autênticas, mas por promessas vazias e discursos calculados e encenações de conversão. Nesse contexto, a prática se aproxima de um verdadeiro estelionato religioso: vende-se uma identidade moral que não se pretende sustentar no exercício do poder.
Questionar esse processo não é atacar a religião nem seus fiéis. Ao contrário, é defender a fé de sua instrumentalização cínica e afirmar que democracia exige consciência, não devoção encenada.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS, Farol da Bahia e o jornal A tarde.