Penso ser muito estranha esta ferocidade toda que verificamos no atual governo federal, em avanço a direitos estabelecidos ao trabalhador. Dá uma impressão de uma espécie de vingança, uma vez que não tendo nada a perder (diferentemente dos seus fiéis aliados), e tendo baixos índices de aprovação, o presidente lança mão de seus aliados em uma cruzada contra todos, menos, naturalmente, os grandes capitais. Recentemente, por exemplo, o banco Itaú, que teve lucro recorde, recebeu do governo um perdão de 25 bilhões em impostos devidos.
O governo tem nadado de braçada, com avidez atropeladora, e muito por força deste momento divisionista pelo qual o Brasil tem passado. É fato, claro, que cada um manifesta as suas preferências ideológicas, partidárias, até mesmo religiosas no entendimento de seus anseios e certezas. Vejo, no entanto, que, no quesito ideológico partidário, o conflito que se estabeleceu entre os chamados “nós” e “eles” tem gerado um descuido muito grande sobre os conteúdos destas reformas que o governo federal está, a toque de caixa, correndo para aprovar. Uma atrás da outra, sem tempo para debate, conhecimento da inteireza de seus conteúdos. Vejo uma falta de preocupação com esses conteúdos, sem qualquer real reflexão de situação pormenorizada.
Ou seja, não se discutem os fatos postos, mas apenas ideologia, de um modo geral. De logo, peço que não simplifique o que aqui escrevo, colocando-me em lado. Sou um religioso, que aprendi a buscar a melhoria dos que nos procuram, sob todos os aspectos, inclusive de cidadania. E nisso também me coloco, como cidadão, sem qualquer interesse político-partidário.
Não vou discutir quanto às necessidades prementes que a própria vida nos coloca em avanços e modernizações de questões legais, mas daí sair sem ideia de consequências, frustrando expectativas de direito, é de doer. Sei que expectativa não é direito, mas as pessoas se preparam, programam-se para o futuro. Uma senhorinha, por exemplo, me procurou na Cidade da Luz por eu estar recorrentemente tocando nesses temas, chamando atenção do que, na prática, é, para muitos, a extinção das aposentadorias. Ela queria que eu a confirmasse, que, como aposentada, bem como o marido – aparentava uns 70 anos – estavam livres de qualquer reforma.
A pergunta trazia uma angústia e, ao mesmo tempo, eu percebia, uma expectativa de que ela estaria livre de qualquer perda. Infelizmente tive que dizer-lhe que não, considerando a proposição absurda da retirada da pensão, em caso da morte de um ou outro. Os dois juntos têm uma renda de quase 5 mil reais. A senhorinha se atordoou e ao sair de perto de mim, sem mesmo se despedir, a escutei, afirmando tristemente: – É preferível morrer.
José Medrado
Mestre em Família pela Ucsal
e fundador da Cidade da Luz
Coluna Opinião/Jornal A Tarde