É fato que vivemos em um país firmado na corrupção, que pode ter os mais variados nomes, como forma de amenizar os efeitos. É o tal jeitinho brasileiro, caixa-dois, emendas parlamentares, contribuição legal de campanha e por aí vai. O brasileiro, no entanto, está percebendo, aos troncos e barrancos, que alguma coisa começa a mudar. Lula foi condenado, Aécio Neves quase preso, o próprio presidente da República fazendo o diabo para ficar no poder. Alguém até já disse isso: faz-se de tudo para ganhar uma eleição e continuar no poder. No entanto, realmente algo começa a mudar no horizonte da terra do “manda uem pode e obedece quem tem juízo”. É preciso, por outro lado, que nós eleitores não percamos de vista em quem não mais votar, guardar nomes, atitudes. Estamos cansados de ouvir, ler sobre isto, mas quem sabe água mole em pedra dura...
Em apud do sociólogo Marcelo Ferraro o processo de corrupção brasileiro é histórico, para entendermos apenas mais recentemente,a família real quando veio para o Brasil, em 1808, com atitudes que favoreceram o “tráfico de influências”. Laurentino Gomes, em seu livro 1808, afirma que a prática da “caixinha” (lembra alguma coisa atualmente?) era de 17% sobre os pagamentos e saques no Tesouro Público. Sem esse “pagamento” o processo não avançava. Estamos vendo que mantiveram em voga tal medida até hoje, com variações apenas no percentual da “caixinha”.
Gomes apresenta também uma dupla de funcionários que virou piada carioca, na época: Azevedo e Targini, responsáveis, respectivamente, pelas compras e pagamentos do governo de D. João VI. Enriqueceram “misteriosamente” nesse período e foram promovidos de Barão a Visconde (do Rio Seco e de São Lourenço). O povo carioca cantava a roubalheira: “Quem furta pouco é ladrão. Quem furta muito é Barão. Quem mais furta e esconde, passa de Barão a Visconde”. Talvez aqui deveríamos atualizar os títulos, ou funções.
Estamos assistindo a um espetáculo de compra e venda à luz do dia de apoios políticos por todos os lados, sem, no entanto, notarmos um veemente rechaço do povo brasileiro, parece uma lógica da malandragem que se espalhou pelo país como normal e dificulta o estabelecimento de uma cultura cidadã, democrática e especificamente moderna, como pontua o doutor Rogério Baptistini Mendes, coordenador do Grupo de Estudos sobre o Brasil Moderno. Dessa forma, surge a impressão de que o quantitativo é que vale para a indignação, não o ato ilícito em si. Sem falar que tudo pode ser negado, até o que foi visto, comprovado.
Sou um otimista e penso que as coisas vão realmente mudar, mas cabe a nós também empreendermos esta mudança, estancando em nós mesmos esta cultura
de levar vantagem em tudo.
José Medrado
Mestre em Família pela Ucsal
e fundador da Cidade da Luz
Coluna Opinião/Jornal A Tarde