A cada dia que passa se evidencia mais e mais o compromisso dos senhores políticos, de uma maneira geral, com o princípio da farinha pouca, meu pirão primeiro. A agilidade com que buscam financiar as suas permanências no jogo político é de uma competência e eficácia extraordinárias. São pródigos em ajustes, acertos em seus interesses.
É assim que a Comissão Especial da Reforma Política da Câmara tem evidenciado a sua expertise. Foram aprovados R$ 3,6 bilhões em financiamento para campanhas políticas deles. Um grande valor, sem dúvida alguma, a fim de se ter uma ideia, caro leitor, em confronto com os números do Orçamento Geral da União se verifica que é muito mais que os R$ 2 bilhões que repassou a todos os municípios do país para implantar creches pú- blicas nos últimos cinco anos. Exatamente, nos últimos cinco anos; equivale quase ao orçamento anual da Polícia Rodoviária Federal, queéde R$ 3,7 bilhões, e que estava na iminência de paralisar as suas funções; representa 12% dos quase R$ 30 bilhões que o governo gastará este ano com o programa Bolsa Família e, acredite, é maior que o orçamento do Ministério da Cultura deste ano, que é de R$ 2,7 bilhões.
Lamentavelmente, a nossa população guarda uma espécie de preguiça moral, onde não busca se informar, acompanhar, fiscalizar para onde está indo o nosso dinheiro. Vemos aqui e ali, em reportagens, geralmente televisivas, o cidadão se queixando de que paga impostos, mas se vê frustrado nas prestações de serviço público, porém parece que só fica no campo da retórica, posto que não se desincumbe de exigir dos seus “representantes”, dos seus “empregados” a devida prestação de contas de suas atuações.
A compreensão que estamos tendo deste tsunami de corrupção é que toda esta dinheirama desviada é para nutrir a “democracia” brasileira, em um sistema apodrecido que funciona no toma lá, dá cá, em presentinhos de brincos de R$ 800 mil, em “empréstimos” de R$ 2 milhões, em sítios, apartamentos, e tendo, do outro lado, nós, os viventes na planície, uma carga tributária de 36% de nossa renda per capita em impostos. E, por favor, vamos deixar de cinismo em comparar com de outros países da Europa, pois a contrapartida daqueles governos em nada se parece com a nossa.
O antropólogo Roberto DaMatta diz que o fato de o povo não lutar por seus direitos, em maior ou menor grau, também pode ser explicado pelas pequenas infrações que a maioria comete no dia a dia, razão pela qual fica uma espécie de vergonha em cobrar o que não faz, ainda que em escalas bem diferentes. O que não deixa de ser verdade, razão pela qual “seja em você a mudança que quer ver no mundo”, disse em suas palavras Gandhi. Aí é o difícil.
José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e
fundador da Cidade da Luz