O CIRB - Comitê Inter-religioso da Bahia – é formado por representantes de diversas religiões, estamos eu, padre Alfredo Dórea, Pastor Djalma Torres, Pai Rafael Moraes, Mãe Jaciara Ribeiro, dentre outros, há mais de uma década em grande cruzada contra a intolerância religiosa, em todas as suas manifestações. Razão pela qual nos causou grande estranhamento a divulgação de uma celebração organizada pelo Governo do Estado da Bahia, em registro ao 21 de janeiro, Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, sem a presença daquela que deu causa a toda uma luta pelo respeito à diversidade religiosa, bem como a reparação pela morte de sua genitora, que sob forte violência passada em seu terreiro veio a perecer exatamente no dia 21 de janeiro de 2000, dando, consequentemente, mote a se consagrar o dia em comento. Falo da Iyalorixá Jaciara Ribeiro, do Ilê Axé Abassá de Ogum, filha consanguínea de Mãe Gilda, a “referenciada” com o dia.
Ora, Mãe Jaciara tem quebrado como Iyalorixá paradigmas e buscado, sob a inspiração de sua mãe, forças para se fazer ouvir, colocando a sua religião em posição de relevância, desmistificando, inclusive, equívocos que se tem sobre os preceitos do candomblé. Como então em um evento que marca a morte de sua mãe, razão de toda esta mobilização, ela não faz parte, não está na programação, ainda que como convidada pelo sangue que trás?
Makota Valdina, sem dúvida alguma, é uma baluarte da causa negra e da luta contra a intolerância religiosa – uma unanimidade, mas frei Beto?!! Aqui não desconsidero a sua cultura, a sua história, de forma alguma, mas não teria na Bahia pessoa alguma para refletir sobre esse dia, ligado à igreja católica?
Espera-se que uma data que deva ser tão expressiva e de grande relevância, que pontue a dor de todo um coletivo, que nos leve a uma reflexão profunda sobre o absurdo que é a falta de respeito à crença do outro, não se transforme em evento político partidário, que só depreciaria a proposição e empanaria a grandeza da luta em si. Partidarizar uma data de todos, principalmente porque tudo começou pela Bahia, é, no mínimo, uma falta de sensibilidade.
Desconsiderar a filha de Mãe Gilda, é fugir do sentido da reflexão do dia 21 de janeiro, como Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Mas para certas cabeças, infelizmente, tudo só é política partidária.
*José Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal.