Não guardo dúvida alguma que neste momento em que ecoam as notícias das mortes na comunidade de Paraisópolis, na capital de São Paulo, muitos estão dizendo: Ah! Esses pancadões ou bailes funks são uns antros de criminosos. Outros estarão afirmando que a polícia se excedeu, inclusive se vê em vídeos – se comprovados - registros das agressões policiais . As versões do que ocorreu são divergentes, a PM afirma que agiu em resposta a criminosos que atacaram policiais e tentaram se esconder dentro da festa. Participantes do baile e moradores da favela dizem que PMs encurralaram frequentadores, o que levou ao pisoteio das vítimas, em uma viela da comunidade. Esperando que tudo seja esclarecido, o fato é que essa comunidade tem cerca de 100 mil habitantes, sendo que um em cada três habitantes é jovem, entre 15 e 29 anos. Esses jovens buscam lazer, ainda que sabido que esses pancadões incomodam, geram distúrbios, propiciam a bandidos desenvolverem suas ações criminosas em todos os sentidos e direções.
Não se discute, mas, sim, e aí? Só existem bandidos, malfeitores...é sabida a existência de inúmeras ações sociais em benefício da comunidade, mas continua o problema: será Paraisópolis um gueto maldito, uma zona umbralina onde as pessoas que lá estão buscaram por lá morar porque queriam participar de quadrilhas, gangues? Não há trabalhadores honestos e os seus filhos que, por falta de intervenção verdadeira de políticas públicas, inclusive direcionadas ao lazer, querem dar vazão aos seus estresses do dia a dia, de tudo: transporte ruim, saúde precária, subempregos?
Não discuto que os moradores sofrem nestes lugares, a música, em geral, tem conteúdo chulo, expressando revolta e agressões, não se tem livre acesso para ir e vir, inclusive se necessário for dar ou pedir socorro...tudo verdade. Mas, sim, são brasileiros de segunda, de terceira? O que precisa é serem abafados, ignorados, esquecidos, vistos com desprezo? O olhar precisa ser amplo, sem extremismo de qualquer natureza. Há sim bandidos oportunistas que se aproveitam da ausência do Estado e se estabelecem, mas aqueles que lá estão, sem dúvida, a maioria, amordaçados pelo medo, sujeitando-se ao inferno desses paredões por falta de condições de buscar a tranquilidade em um outro lugar para morar, vão fazer o quê?
Essas questões devem ser associadas a políticas de Estado, onde o Poder Público precisa agir na prevenção, para evitar reações, no entendimento que o caminho é desopressar, gerando paz social, através da suas variantes sabidas por todos, mas desdenhadas, menosprezadas por muitos, inclusive de nós, que guardamos a segurança de uma morada sossegada.
* José Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio.