Impressionante quando o interesse sobrepõe a razão, e as pessoas se fanatizam diante dos seus ídolos e aceitam tudo como natural, mesmo o que bate de frente com o mínimo de razão e bom senso. Estamos vendo esta polarização política gerando defensores de lado a lado, fazendo com que discussões se acirrem até sobre assuntos e situações que deveriam ser autoevidentes pela lógica, em aplicação de um mínimo de análise. A isso os estudiosos do comportamento humano chamam de autoengano, um processo de defesa do ego, onde o seu acionador não aceita nada que destoe das suas certezas sobre os seus ídolos, seus discursos e verdades, e estas mesmo que fabricadas. Nesse clima de disputa política é o que mais presenciamos. Absurdos ditos, defendidos, sendo aceitos de uma forma natural, sem qualquer questionamento dos chamados aliados, como se os valores fossem colocados de lado, em uma espécie de vale tudo difuso de fakes news de toda natureza, ou quando os próprios agentes públicos, como recentemente vimos pelo presidente da Fundação Palmares, verbalizam um sem-número de preconceitos e ignorância, recebidos, por muitos, de forma natural, considerando a posição a que foi guindado de defesa, a priori, dos que seriam os seus iguais em etnia. É nessa situação que o autoengano pode aparecer, gerando uma espécie de embaçamento da compreensão cognitiva sob algo que até se condena, mas sobre quem se admira, ou seus aliados, não se cogita o controverso e tudo é visto como aceitável, fatos indiscutíveis. Assim, quando a verdade é muito dolorosa paraoego, ela é relegada ao inconsciente, e a mentira se torna o certo e se fecha os olhos ao bom senso, por mais que as evidências sejam imperativas e compartilhadas por muitos. Precisa muito coragem emocional para aceitar com naturalidade a existência de nossa sombra e abandonar as ilusões de que mesmo as pessoas que mais admiramos podem fazer e ou dizer bobagens, pois a mente apresenta os mais diversos argumentos, visando evitar o confronto com os nossos conteúdos de certezas e os expostos por quem admiramos. O autoengano sempre será um recurso de autodefesa, que surge todas as vezes que nos sentimos ameaçados, decepcionados ou nos deparamos com algumas verdades inconvenientes. Seria um escape para não nos posicionarmos frente a uma situação desconfortável, como, por exemplo, bobagens ditas por ídolos políticos. As mentiras se tornam inconscientes e, de alguma forma, se transformam em verdades confiáveis, por mais absurdas que sejam. Assim, a razão, ao lado do bom senso, sempre será a melhor forma de avaliarmos conceitos e posições, mesmo aqueles que venham de pessoas que guardamos em grande estima e admiração. ((R)
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz