Diante das carreatas Brasil afora para o fim do isolamento social, adotado pelo mundo inteiro, como sendo o único caminho para evitar o colapso nos sistemas de saúde, eu me pergunto qual a base científica para a defesa disto, na contra mão do que o mundo todo está fazendo? É verdade, noticia, primeiramente, a Veja e a Folha Uol, que quatro dirigentes de nações concordam com presidente Bolsonaro: o ditador Daniel Ortega, da Nicarágua, que vai combater, segundo ele, o coronavírus com amor; o ditador Gurbanguly do Turcomenistão, país da Ásia Central, que inclusive proibiu o uso da palavra “coronavírus” não podendo aparecer em publicações oficiais, notícias da mídia estatal e nem mesmo em conversas de bar.
Um jornalista local disse à Radio Free Europe – um dos poucos veículos que consegue extrair informações não oficiais do país – que moradores da capital, Asgabate, que andavam pelas ruas de máscara ou eram flagrados falando sobre a pandemia estavam sendo presos por agentes do governo; o ditador da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, que tem insistido em uma tese original no combate ao coronavírus, afirmando que um tratamento a base de vodca e idas à sauna é o suficiente e o presidente Bolsonaro, receitando cloroquina. Significa então dizer que os dirigentes dos 189 países estão errados, dentre os 193 reconhecidos pela Organização das Nações Unidas. Seria isso possível?
Os estudiosos da psicanálise, baseando-se em Freud, claro, dizem que há algumas estratégias, táticas inconscientes, que todos usamos para manter uma espécie de compensação mental, um equilíbrio diante de fatos, situações que não queremos saber ou mesmo admitir, a isto eles chamam de mecanismo de defesa, e um deles é a negação. Oferece alguma tranquilidade, digamos, conforto emocional momentâneo do se foge enfrentar, mas a longo prazo traz problemas, pois tentando invalidar algumas verdades desagradáveis que não se quer confrontar, essas pessoas impedem o desenvolvimento de processos de enfrentamento da realidade. Seria o “me engana que eu gosto”, dito por Sassá Mutena, personagem corporificado por Lima Duarte, na novela O salvador da pátria. Ops!
No uso da negação, as pessoas invalidam, ou pelo menos tentam, aspectos que incomodam, que geram insatisfação ou conflito próprio ou com os outros. Aí também está o desejo de tornar a realidade mais tolerável e não se expor ao colapso da vida pessoal ou mesmo de valores e costumes aceitos como caminhos, mas que no confronto com a realidade poderão se evidenciar como possíveis equívocos. A negação não anula, em verdade, o que nos gera conflito e queremos sepultar, apenas retarda a queda na realidade e a angústia da verdade.
José Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio