Ao ver as notícias sobre as carreatas e apelos pela volta da ditadura, por apoiadores do presidente Bolsonaro, eu fico me perguntado qual seria, de fato, o sentido de tudo isto? Desde o próprio a discursar com indiretas de que está com os manifestantes, dando a entender algo sombrio até os inocentes úteis que, certamente, não viveram, sequer leram, algum livro-relato deste período trevoso do Brasil. Sou de querer trinchar o comportamento das pessoas através de suas linguagens verbais e gestuais, tentando entender o seu ego (no campo da Filosofia significa a personalidade de cada um, seu eu, já com mais complexidade, na psicanálise, a grosso modo, é entender e procurar mitigar as cobranças do que somos e está mais escondido das exigências da realidade). Dessa forma, o ego está sempre em formação, construção, incorporando a ele aspectos exteriores de cobiça e admiração, dentre outras. Dito isso, o ego é o guardião de defesa do psiquismo, sua integradora e humanizadora de suas exigências e ameaças advindas da realidade exterior. Esses mecanismos de defesa são processos subconscientes desenvolvidos pela personalidade, os quais possibilitam à mente criar uma solução para conflitos, ansiedades. Poderemos, por analogia, e considerando que são muitos os processos que se buscam para esta proteção, o fato é que esses mecanismos fazem parte dos procedimentos utilizados pelo eu para desempenhar sua função principal, que em geral quer evitar o perigo da ansiedade, os desprazeres, ressentimentos e frustrações não resolvidas conscientemente. Voltando às carreatas e ao presidente, cada um deles guarda, no meu humilde e superficial entendimento, a tentativa de não se frustrar no que esperava de expectativa, que foi tisnado pela decepção do que não aguardava de um lado e outro, como o de não se ver uma economia voar, ainda que não estivesse, e não se ter um poder que julgava possível. Os indivíduos sabem que algo os ameaça, mas evitam de qualquer forma que tal conteúdo venha à consciência, reprime-o, recalca-o ainda que por si só seja autoevidente, mas o que importa, agrupam-se, seguindo a quem possa ajudar na manutenção desta “proteção” de suas frustrações e desencantos não solucionados ao nível da consciência. O pior é quando esse tipo de proteção não basta a aí surgem defesas mais, digamos, agressivas, como a recusa da realidade (em todo ou em parte), necessitando, não raro, de uma reconstrução de uma neorrealidade, cujo processo pode levar à posição de delírios, de se personificarem como enviados a salvar um país, por exemplo, com consequências imprevisíveis, dependendo do acirramento, desespero mesmo, pela defesa de seus recalques e frustrações.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz.