Eu senti uma grande vergonha alheia, no lugar do procurador-geral da República, Augusto Aras, quando o presidente Bolsonaro afirmou na ultima quinta-feira (28), durante transmissão de uma live, que o atual procurador pode ser um nome para assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Afirmou ainda que “...um vai ser evangélico, é um compromisso que eu tenho com a bancada evangélica”. Espere aí, não entendi, em um país laico o critério é religioso? Compromisso com bancada evangélica, e não com o povo, com o Judiciário do país? O senhor presidente achando ainda pouco, prossegue: “Se aparecer uma terceira vaga – espero que ninguém ali desapareça...”. O que me ocorreu é que a história nos remete aos anos da ditadura, onde os desaparecidos eram os mortos pelo regime de exceção. Até hoje há “desaparecidos”. A vergonha alheia éoque você sente dentro de si ao presenciar alguém fazendo algo embaraçoso, ou seja, alvo de tal. Isso acontece porque algumas células do nosso cérebro simulam tudo que acontece à volta, dando a sensação de que estamos fazendo aquilo que está sendo presenciado e ou dito. Assim, pus-me no lugar do procurador e pensei que ali o presidente o humilhava, como a falar, nas entre palavras: se você continuar indo bem pode ganhar um presente. Naturalmente, que pode apenas ser apenas um meu devaneio, tal leitura. Em texto publicado no site do Ministério Público Federal, Aras “manifesta seu desconforto com a veiculação reiterada de seu nome para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF)”. Caberá, no entanto, ao baiano mostrar que não existe este sonho de um lado, e esta, não sei, promessa do outro. O fato é que o falar sem medidas do presidente é tão sem ponderação, que ele expõe, humilhando, no caso, o procurador-geral da República desta forma, confiando que ele continuará, segundo posição de muitos procuradores, fazendo afagos e agrados ao presidente Bolsonaro. São lamentáveis essas vinculações políticas, por força de nomeações que deveriam ser e só das categorias públicas representativas. Sem suspeição às atitudes do procurador-geral, mas essa situação me fez lembrar que a segunda mulher de César, Pompeia, fez um festival em homenagem a Bona Dea (“boa deusa”), no qual homem algum poderia entrar em sua casa. Porém, um rapaz, Públio Clódio, conseguiu entrar disfarçado de mulher, aparentemente com o objetivo de seduzi-la. Ele foi pego e processado por sacrilégio. César não apresentou nenhuma evidência contra Clódio no julgamento e ele acabou inocentado. Mesmo assim, César se divorciou de Pompeia, afirmando: “Minha esposa não deve estar nem sob suspeita”, o que gerou o provérbio: “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz