A todo instante estamos tomando contato com matérias, notícias sobre fake news, dando-nos a impressão de que foram banalizadas, ou seja, é natural passar mentiras, falsear o que pode ter alguma verdade indesejável. Criou-se, inclusive, uma expressão que está sendo muito usada – a pós-verdade. Trata-se de se descrever uma situação onde o que menos conta é, de fato, o que ocorreu, mas se gera narrativa em que importantes são as emoções, as crenças pessoais e ou comunitárias de quem entrará em contato com aquela, digamos, diferente versão. Embora a realidade não deixe de ser o que é, vemos interesses de toda natureza criando as suas. Ainda esta semana foi o ministro da Educação todo enrolado em explicar que não fez, mas fez o doutorado, o pós-doutorado. E não se explicou. Ainda que subjetivamente, de forma pessoal, a realidade é uma consequência do que interpretamos, há questões que são por si só autoevidentes, uma vez que sacramentadas, por exemplo, pelas ciências. Dessa forma, quando vemos os saudosistas pela ditadura militar, em verdade são pessoas que guardam uma capacidade, se podemos nos expressar assim, de elaborar, criar crenças tendenciosas para atingirem algum objetivo, ainda que seja a sua própria proteção do que se escancara à frente, mas as pessoas se recusam a vislumbrar. Surge o autoengano como defesa das “ameaças” de perigo e se precisam, concebem os seus praticantes, sem cerimônias, desdizem o dito, ignoram o que propuseram. É preciso se proteger das experiências difíceis de assimilar. O autoengano é uma importante defesa contra as ameaças de perigo, que se destaca como uma armadura que protege das experiências difíceis de assimilar, uma couraça do caráter como dizia Willhelm Reich, psicanalista contemporâneo e colaborador de Freud. Esse escudo protege da ansiedade de se confrontar com os erros, enganos, bem como do mundo considerado hostil. A verdade é que quando a força da objetividade da realidade, dos fatos ameaça, por exemplo, as crenças em pessoas, instituições, ou o que seja, o medo do sofrimento faz fugir da realidade, bloqueando e enganando naquilo que não se quer saber. A admiração por ídolos de quaisquer segmentos, inclusive, políticos, faz agir também assim. Os manipuladores dos fatos modificam com mentiras as experiências, as narrativas, criando uma realidade de interesse dos seus intentos. Temos, infelizmente, entrado em contado quase que diariamente com esses ilusionistas e precisamos nos imunizar contra esses fraudadores de plantão, revisando, buscando a concretude das informações e assumindo os enganos, os equívocos, sendo uma “metamorfose ambulante”, como sugerido por Raul Seixas, “do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”