Pessoalmente, penso que quando se fala em resultados dessas últimas eleições, vejo muitos analistas falando que houve uma espécie de fratura do conservadorismo. Entendo, no entanto, que não se trata de conservadorismo, mas em muitas posições de retrocesso. Não falo de questões partidárias, porém de conquistas cidadãs, de avanço de direitos, de reconhecimento e manutenção de direitos civis, na ampliação da dignidade humana. Reconhecer a autonomia, por exemplo, de alguém ser, na busca da sua identificação sexual, é direito puro à cidadania, e sentimento de solidariedade e empatia. Dessa forma, vejo com exultação as eleições de transgêneros nesse último pleito. O Brasil lidera o ranking mundial de assassinatos de transgêneros, de acordo com a ONG Transgender Europe. Só em 2019, foram registrados 124 casos no país, segundo dados da Associação de Travestis e Transexuais (Antra). Mesmo apresentando uma diminuição de 24% em relação aos números de 2018, quando foram registrados 163 assassinatos. Dados da Antra mostram que o Nordeste é a região com mais casos, concentrando 45 assassinatos – ou 37% do total. O Ceará é o estado nordestino com mais casos, seguido por Bahia e Pernambuco. Em décimo lugar está o Maranhão. Após o Nordeste, a região Sudeste é a mais transfóbica do Brasil, tendo registrado 37 assassinatos no ano passado. Em seguida estão as regiões Sul, Norte e Centro-Oeste. Essas mulheres, em especial, romperam as barreiras e fazem história de cidadania e respeito ao diferente, ao serem o que são. Belo Horizonte elege sua primeira vereadora trans, Duda Salabert, sendo a mais votada da história da capital mineira, da mesma forma em Aracaju, a educadora Linda Brasil se elegeu com maior número de votos, em São Paulo tem Erika Hilton como a primeira mulher trans eleita vereadora e Thammy Miranda , primeiro homem trans eleito. A isso se chama cidadania, exercício lídimo da democracia. Curiosamente, muitos exaltam os ideais democráticos e até cristãos, mas exercem o autoritarismo de ideias e os sentimentos e ações anticristãos quando o discurso vai para a prática. Não se trata de questões de competência, qualificação, mas de direito. Aos eleitores a avaliação dos seus votos, em processo de crítica e reconhecimento de erros e acertos. A dinâmica democrática facilita essas revisões. Uma sociedade não cresce em civilidade, se se mantém em seus porões ideológicos processos discriminatórios de toda e qualquer natureza, geradores de sentimentos odiosos de repulsa, ataques e desrespeitos a toda e qualquer minoria. As pessoas são o que elas são e se apresentam, não cabendo a ninguém, por designação públicaeou pretensa divina conceituar, julgar. Direitos e deveres são iguais para todos, assim é na democracia.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz