Uma situação sui generis ocorreu em Concepción, no Chile, quando o arcebispo daquela cidade, Dom Fernando Chomalí, embarcou em um helicóptero para “abençoar a cidade” e “exorcizar” o coronavírus. O anúncio foi feito através de sua conta no Twitter, onde se vê que se encontra a bordo de um helicóptero sobrevoando a capital da região do Biobío. “Bênção de Concepción e exorcização do coronavírus”, diz a publicação do eclesiástico, emitida no último domingo, e posteriormente excluída da rede social. É lamentável que líderes religiosos que deveriam, entendo, se apoiar na ciência e orientar seus fiéis e crentes, no sentido de buscarem os disponíveis e sérios estudos acadêmicos, inventam explicações mirabolantes, em geral de cunho maligno, para tentar dar aso às suas fantasias, quando não sandices. In casu do coronavírus, a ciência tem feito eco em artigos e estudos como o publicado pela revista The Nation ao afirmar que cientistas atribuem a morcegos e pangolins as origens potenciais do vírus, mas a verdadeira fonte seriam os ataques humanos ao meio ambiente. O artigo explica como, desde 1940, centenas de germes surgiram em novas áreas onde nunca tinham sido vistos antes A maioria deles tem origem em animais, onde muitos já defendem que os coronavírus são zoonóticos, ou seja, são transmitidos entre animais e pessoas. Cientistas, ainda, explicam que as pandemias estão conectadas a essas questões ecológicas. Epidemias virais sempre surgem na relação da sociedade humana com a vida selvagem, de uma dominação de humanos sobre animais, ou quando estes invadem os espaços humanos por devastação de seu habitat. Assim, o coronavírus não é uma questão religiosa, divina, mas de saúde pública, trazendo desdobramentos na xenofobia, na discriminação maior com pessoas pobres que usam os transportes urbanos para o seu ganha pão, além, naturalmente, da estupidez daqueles que se sentem invulneráveis diante da pandemia. Chega a ser uma irresponsabilidade fazer apologia às forças demoníacas ou mesmo ação divina para que o ser humano desperte. Discursos de sempre, em diversos momentos onde o ser humano se viu diante de ação dos seus coabitantes da Terra. Dá-nos a impressão que há uma espécie de inspiração pagã, ancestral, onde os deuses puniam e ou premiavam os seus filhos, dependendo dos seus feitos. As contingências deste planeta nos levam a essas situações só e exclusivamente por conta da incúria humana. Vê-se, por outro lado, a partir desses exotismos que surgem para explicar o natural de estar neste mundo, a sobrevivência dos seres que aqui habitam, uma panaceia de explicações que só aumentam a ignorância e o descuido, quando não a arrogâncias dos que creem.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz