D e um modo geral, as pessoas não têm com precisão o conceito de cinismo, ou mesmo cínico. O Cinismo é uma corrente da Filosofia que pregava o total desprezo pelos bens materiais e o prazer. Os seus profitentes, os cínicos, deveriam ser exemplos daquilo que afirmavam, pois a filosofia moral não poderia estar separada do modo de vida dos seus divulgadores. Eles deveriam ser exemplos daquilo que afirmavam. Os filósofos cínicos eram, outrossim, pessoas que não possuíam apego às convenções sociais, mas se sentiam superiores por isto. Dessa forma, quando vemos algum político na maior mentiraenos indignamos, chamando-o de cínico, certamente só cabe o espírito do se sentirem superiores. Hannah Arendt, em sua obra “Entre o Passado e o Futuro” afirma que “sempre se consideram as mentiras como ferramentas necessárias e justificáveis ao ofício não só do político como do demagogo”. Não é ao acaso queadescrença geral do povo na política tem sido uma expressão desestruturante do respeito a esta estratificação da sociedade, haja vista, ao que parece, tudo neste espectro só tem piorado. Tem se repetido figuras que vivem da política, mas que têm escancarada a desfaçatez com que muda de opinião, de posição, de uma semana para outra, sem qualquer prurido de cosntragimento, apostando que o povo tem ficado com a memória cada dia mais curta. E o pior que tem ficado mesmo. É sabido que em “O príncipe”, Maquiavel, no capítulo XVII, tece uma implacável concepção quanto à natureza humana. Os homens ali são pensados como seres imutáveis em seu egoísmo, na sua ingratidão, sendo, ainda, “volúveis, dissimulados, ambiciosos de ganho. Ao que parece muitos políticos se dão como exemplo. Como conceber um parlamentar eleito como presidente de uma Câmara Federal e que responde a denúncias de corrupção e organização criminosa? O próprio presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, avalia que não é o "melhor quadro para o Brasil" ter um réu na linha sucessória da Presidência da República. Imaginemos que Arthur Lira pode ser impedido de substituir o presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão. Um precedente do tribunal já impediu o então presidente do Senado, Renan Calheiros de ocupar interinamente a cadeira no Planalto por ser réu na época. Ora, vê-se que de fato lá e aqui os senhores políticos apostam com segurança no desmemoriamento do povo. Lamentável, assim, que eles não conseguem associar as suas ambições aos interesses do povo, é, em geral, deles para eles mesmos ou aos seus interesses patrocinadores. Assim vamos de eleição em eleição gerando esperanças e caindo na realidade dos enganos, sabe-se lá até quando. Os extremistas de todos os lados estão aí dizendo a que vieram.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br