Em 1991, o professor de sociologia e estudos religiosos James Davison Hunter lançou o ensaio Culture Wars – The Struggle to Define America, em tradução literal, Guerras culturais – a luta para definir a América. Essas guerras culturais seriam disputas de narrativas, ou seja, composição de argumentos sobre a definição dos valores que devem orientar a “família, arte, educação, lei e a política”, como explicita o livro. Essa ideologia de extrema-direita, haja vista que, ao analisar os processos para se consolidar esses aspectos, nota-se, claramente, segundo Hunter, uma busca de resgate, de conceitos e vivências que seriam os ideais de restabelecimento de valores de conduta, na elaboração de destruição de tudo que fosse diferente ao assumido pelo autor, fora dos “ideais” americanos de sociedade. Nesse processo se estabelece o combustível do ódio, ou como muitos estudiosos chamam de retórica, onde guardam ações em duas direções: eliminar com pressão e opressão todo aquele que não aceita, diverge do estabelecido pelos seguidores dos princípios, desqualificando-os e buscando “cancelar” toda e qualquer manifestação, ainda que seja pelo livre pensar de ideias contrárias. Estudiosos dos movimentos do tecido social chegam a afirmar que esses discursos de ódio, de agressividade está em uma ebulição nunca antes vivida em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Chegam a afirmar que por aqui nem mesmo no período ditatorial militar era tão exposto. É fato que nem todo discurso que expressa raiva, ideologia está associado a uma orquestração direcionada. Pode se tratar de apenas contágio social, necessidade de pertencimento, em especial, do que parece valorizar segmentos específicos. Mesmo considerando que o uso das armas do palavrão e do cinismo, repassados de uma certeza de que o outro precisa ser ridicularizado, escrachado, a fim de se sentir tão constrangido que evite o confronto, seja o objetivo. É preciso sufocar, que o oprimido não reaja, para que o “assédio” deixe de acontecer. A discussão passa longe das ideias, de suas defesas retóricas, pois o importante será sempre o combate, o conflito, a guerra, o extermínio do outro pensamento. E nesse vale tudo, entram as fake news prós e contras aos interesses dos recrutados para tanto. As mídias sociais surgem como verdadeiras milícias, ou front de combate, onde ninguém está livre, se ousar a discordar o que devem ser os conceitos reinantes. O ódio será sempre a lenha para uma fogueira que não pode parar de crepitar. É uma guerra conduzida ao subsolo do comportamento antissocial, pois o que importa é a prevalência de seus conceitos e ações, nunca o respeito ao diferente, ao desigual.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz