Na última segunda (28) foi o dia internacional do orgulho LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e demais orientações sexuais e identidade de gênero), infelizmente, no entanto, não há muito para se comemorar. O Brasil sofre, e muito, pelo processo de perseguição a autoafirmação das pessoas quanto o que elas são, em sua orientação sexual. Em 2019, por exemplo, o presidente Bolsonaro se sentiu ofendido com a presença de jovens de cabelo colorido, negros, que fogem da heteronormatividade e, consequentemente, do ideal de “família tradicional brasileira” e mandou tirar do ar uma propaganda do Banco do Brasil, que festejava, em verdade, a diversidade. O presidente, então, entrou em contato com a direção da entidade mista, para tirar a peça de circulação, culminando, inclusive, com a demissão do diretor de marketing do banco. Vemos que o governo segue na contramão do crescimento civilizatório-cidadão do Brasil, e não se convence que o nosso país é um dos que mais discriminam e matam pessoas LGBTs no mundo. De acordo com o relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA), o Brasil ocupa o primeiro lugar nas Américas em quantidade de homicídios de pessoas LGBTs e tambéméo líder em assassinato de pessoas trans no mundo. Ainda, de acordo com dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada 19 horas, uma pessoa LGBT é morta no país. Segundo a Rede Trans Brasil, a cada 26 horas, aproximadamente, uma pessoa trans é assassinada no país. A expectativa de vida dessas pessoas é de 35 anos. É uma, em verdade, vergonha nacional, pois o relatório Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ fala que das 237 pessoas que morreram em 2020, 161 eram travestis e trans (70%), 51 eram gays (22%), 10 eram lésbicas (5%), 3 eram homens trans (1%), 3 eram bissexuais (1%) e 2 eram heterossexuais que foram confundidos com gays (0,4). Ainda que a criminalização de atos LGBTfóbicos se consolidou em 2019, com o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão nº 26/DF, pelo Supremo Tribunal Federal, determinando seu enquadramento como crime de racismo, nos moldes da Lei nº 7.716/89, até que seja promulgada lei específica para criminalização desta conduta pelo Congresso Nacional, acompanhamos o significante aumento da violência destes cidadãos brasileiros, iguais a quaisquer outros, em seus direitos e deveres constitucionais. O certo é que esse povo é corajoso, busca na afirmação do seu eu, a posição de dignidade, mesmo que tentam conspurcá-la, até mesmo com o uso indevido de religiões, mas segue adiante, postando-se na sociedade, ainda que culpabilizado por ser, sentir e amar.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz