O Brasil, infelizmente, vem sendo forjado na formação de uma espécie de corte de bajuladores. As chamadas autoridades, os de plantão pelo voto, ou os concursados em cargos vitalícios, ou mesmo os indicados para exercício temporário, notabilizam-se por uma espécie de necessidade de DNA para bajulação. Sabe-se que até 1808, quando a corte portuguesa se instala no Brasil para fugir de Napoleão, era proibido imprimir livros. Assim que surge a "Impressão Régia" nasce também a bajulação oficial. Fazer uma dedicatória elogiosa a algum poderoso era uma boa maneira de conseguir ser publicado na única tipografia do país, controlada pela Coroa. O Brasil, assim, dizem muitos historiadores, inicia a sua prática de servilismo bajulador.
Maquiavel, em o seu livro O príncipe, dedicou um capítulo inteiro (XXIII) para ensinar como um governante pode “evitar os aduladores”. Nesse livro, o autor afirma que “os homens apreciam tanto a si mesmos e aos seus atos, que acabam se iludindo a tal ponto que os bajuladores passam a fazer parte de sua vida.” Em comentários de rodapés o grande imperador Napoleão Bonaparte afirmava que “são úteis, uma vez que todo príncipe precisa de estímulos, mas não deve se deixar envolver por eles.’’.
Trabalhei, até a minha aposentadoria, 37 anos, em serviço por concurso ao Poder Judiciário Federal, na Justiça do Trabalho, e via como boa parte de magistrados e desembargadores se sentia patrões dos servidores, não como também funcionários em função diferente, mas patrões mesmo. Sempre afirmei que isso foi um hábito que muitos dos antigos servidores cultivaram e que agora os mais jovens estão acabando. Porém, os senhores políticos são imbatíveis nesta prática e cultivo: o servilismo. Nunca se sentem empregados de quem os colocou onde estão, no caso, o povo, ou nomeado por quem o povo quis, mas detentores de uma espécie de unção divina, que se acreditava antigamente que os monarcas possuíam. Seja pela fraqueza de caráter ou pela força da vaidade, nossos “poderosos” têm gosto por formar em torno de si um cerco de bajuladores. É assim que deixam de ter os pés no chão e, depois de um tempo, saem desnudando os seus próprios delírios de se acharem acima do bem e do mal. Esquecem-se que estão nos cargos, e que tudo passa, acaba. Foi assim que o secretário Fábio Vilas-Boas não se deu conta e voou, achando que todos estão para reverenciá-los em seus arroubos de não sei o quê. Caiu de seus devaneios, compreendendo, espero, que o tal mundo dá voltas e é certo, e não apenas uma figura de retórica, ou expectativa de vingança, de forma alguma. Ele, o mundo, dá sim, inclusive porque a Terra não é plana.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz