Costumo falar que sou palpiteiro, busco estudar, entender as pessoas e os seus mecanismos de vida. Naturalmente, com objetivo de enriquecer meus processos de respostas às dezenas de indagações que recebo com os programas que faço aqui e em São Paulo. Dessa forma, honestamente, não vi mudança comportamental alguma no presidente da República, do pouco que conheço de sua história. Bolsonaro sempre excitou sua base eleitoral, alimenta-se do conflito. O doutor em ciência política, professor no Iesp (Instituto de Estudos Sociais e Políticos) da UERJ, Christian Lynch, pontua com grande precisão que se nós observarmos detidamente vamos ver que a conduta de Bolsonaro desde o início da carreira, sempre foi uma espécie de jogo de simulação de poder, de conflito e tiradas fantasiosas, de uma imagem associada ao regime militar. Ele sempre se vendeu, prossegue o ínclito acadêmico, como alguém que está organizando um motim que nunca explode.
Em 1987, em artigo e entrevista à revista Veja, ele afirmou que elaborou um plano que previa a explosão de bombas em quartéis e outros locais estratégicos no Rio de Janeiro; em 2019 por determinação judicial ele precisou se retratar com a deputada Maria do Rosário, por dizer que a parlamentar “não merecia ser estuprada por ser muito feia”, episódio ocorrido em 2014; em 2017 desejoso da saída de Dilma Rousseff da presidência, afirma: “Espero que Dilma saia. Infartada, com câncer, de qualquer jeito”... e por aí vai. Sempre foi assim. A surpresa, no entanto, está no fanatismo por parte de milhões de ferrenhos seguidores. A Psicologia social explica.
Dito isso, não guardo dúvida alguma que golpe não acontecerá, haja vista que as confluências são totalmente diferentes, em todos os aspectos. Explora-se uma ideia de retorno de 1964, mas o que realmente ele pensa é em blindagem própria e dos filhos, e não uma efetiva estratégia de golpe, avaliam estudiosos do assunto. Ele quer passar à sua base saudosista, ou aos que ignoram o que foi de fato a ditadura militar, uma imagem de que pode agarrar o poder e nele ficar, sem qualquer tipo de obstrução, bem como a ideia de amedrontar os seus adversários quanto a tal possibilidade.
Por fim, o que de fato me surpreende é a retransmissão de tudo que ele fala, por parte de seus fiéis seguidores, sem qualquer ponderação lógica, sensata ou mesma uma rápida pesquisa no Google sobre as suas acusações e ataques a outras pessoas. Explicável, pois os dicionários dizem que “fanatismo é o estado psicológico de fervor excessivo e persistente, por qualquer coisa ou tema, historicamente associado a motivações de natureza religiosa ou política, cuja a adesão a uma causa pode se avizinhar do delírio”. Espero não estar errado.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br