Certamente, muitos articulistas falaram dos 100 anos de nascimento de Paulo Freire, nesse 19 de setembro, no Recife, em Pernambuco, tornando-se, sem dúvida alguma, um dos mais importantes nomes, se não o mais, da história da pedagogia mundial. Patrono da educação no Brasil, o Copérnico de uma inovadora metodologia de alfabetização é reconhecido mundialmente. Detentor de 29 títulos de Doutor Honoris Causa dado por universidades da Europa e da América, além de vários outros prêmios, como o Educação pela Paz, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (Unesco). O educador ainda é o terceiro pensador mais citado do mundo em universidades da área de humanas, de acordo com levantamento da London School of Economics. No entanto, tristemente, no seu país de nascimento ele é vítima de fakes news, tachado pejorativamente de comunista, inclusive alvo do então candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro, quando em campanha chegou a dizer que para melhorar a educação seria preciso “expurgar a ideologia de Paulo Freire” das escolas. Claro que não sabia, nem sabe do valor do ínclito educador.
Não bastando a ignorância quanto o feito de Paulo Freire, na semana passada a Justiça Federal do Rio de Janeiro deferiu liminar que proíbe o governo federal de “praticar qualquer ato institucional atentatório à dignidade intelectual” de Paulo Freire. Em ação de esclarecimento e respeito à memória deste grande brasileiro, o Instituto Paulo Freire lançou um livro expondo essas ondas de ataques e tentativas de desconstrução da memória do seu patrono, expondo que o alvo está sendo o direito a uma escola democrática, popular, emancipadora, afirma Moacir Gadotti, presidente de honra da fundação. O e-book Paulo Freire em tempos de fakes news é um brado, uma lembrança de que após mais de duas décadas da sua morte, o Brasil ainda registra 11 milhões de analfabetos, segundo o IBGE. Muito triste.
Maurilane de Souza Biccas, professora de História da Educação, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), lembra que a obra de Paulo Freire é estudada em todo o mundo como base de pesquisas em educação. “Os livros de Paulo Freire foram publicados em quase todo mundo. A Pedagogia do Oprimido é a obra mais importante,aterceira mais citada em trabalhos de ciências humanas do mundo, foi traduzida e publicada em mais de 20 idiomas. A produção teórica e a reflexão sobre sua prática como educadoreconsultor, inspirou e ainda tem inspirado, inúmeras pesquisas acadêmicas e práticas pedagógicas que são realizadas no Brasil e em vários países do mundo”, diz a doutora ao Correio Braziliense. Mais uma vez o Brasil tenta apagar ou o pior: mistificar a sua História.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br