Nesses tempos de apologias e paixões, temos visto com perplexidades situações, conceitos que custamos a acreditar que aquela pessoa que conhecemos possa expressar tais “sandices”. Temos sabido de desentendimentos sérios por conta de divergências de conteúdo de reflexão. Chegamos mesmo a nos questionar como alguém pode defender tais ideias? Sejam elas quais forem, mas principalmente as que fogem parcial ou completamente ao lógico e ao bom senso. Naturalmente, alguém poderá neste ponto perguntar: à lógica de quem? Ao bom senso de quem? Aos padrões estruturantes da sociedade, em suas regras de convivência e de cidadania. Em verdade, estudiosos afirmam que há processos de fugas, ainda que em certa medida benéficas, mas quando excede ao compreensivo, é problema. Nesse leque temos a fantasia, que é criada pelo inconsciente como forma de garantir a realização, a satisfação de desejos sobre algo que não é possível a realização, ou seja, a pessoa busca através da fantasia concretizar o que não se pode conseguir em sua vida real.
Nessa espécie de sonho em vigília é possível criar, reforçar, fortalecer uma cena mental de maneira que ela se torne uma espécie de realidade pessoal, ou mesmo de um grupo que acredite nas mesmas coisas. Foge-se da angústia da realidade, auferindo uma espécie de liberdade ou concretização do que sabe, repito, não possuir, não ser possível conquistar. Muitos desses “ideais” ou ideologias que ouvimos, lemos, nesses dias que correm, são, afirmam muitos estudiosos do comportamento humano, uma expectativa de realização do desejo gerador do prazer, e quando se constata a não possibilidade, geram-se conflitos com os dos “contras”. Esse mecanismo em si não é problemático, a posição degenera quando a fantasia aprisiona, deixa o indivíduo “refém desse mecanismo de busca pelo prazer e realização apenas através do imaginário. É nociva, pois priva a pessoa da construção e experiências concretas que é onde, de fato, a vida acontece”, afirmam os especialistas.
Dessa forma, o esteio freudiano nos direciona para a concepção de que as fantasias são realmente uma leitura subjetiva da realidade dos fatos, através dos desejos e mecanismos de defesa dos indivíduos, mas que, em algumas situações, podem regar processos dissociativos, negacionistas, identificações projetivas com ansiedades persecutórias sobre a própria sobrevivência do seu eu, em vivências de experiências que irão identificar a unidade pessoal ou do seu grupo por afinidades conceituais. Freud aponta esses mecanismos como universais, ou seja, todo mundo faz uso deles, em maior ou menor escala, mas que o uso excessivo desses mecanismos pode abrir as portas para os transtornos psicológicos.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br