O Brasil brilhou no Mundial de Atletismo Paralímpico de Paris, ficando na classificação geral em segundo lugar, ainda que em quantidade de medalhas acima da China, a maior ganhadora. Isso porque o país asiático teve duas de ouro a mais. Lamentavelmente, no entanto, não vimos grandes destaques na imprensa deste feito histórico. Posso estar equivocado, mas sinto por ser um mundial onde, claro, os protagonistas são pessoas com deficiência física, em alguma medida, gera certa rejeição, talvez por conta dos conceitos sociais do biotipo de referência da sociedade: a tal da aparência que dizem que contar. Triste isso, muito triste, pois evidencia uma grande ignorância do que seja, de fato, um país para todos e justo. E aqui não tem nada de partidarismo, mas sim de humanidade, de empatia. Todos os atletas que ganharam as 47 medalhas que estão trazendo para o Brasil são beneficiados pelo programa governamental – Bolsa atleta.
Vimos, então, como é importante um governo (em quaisquer de suas instâncias – municipais, estaduais e federal) favorecer a cultura e o esporte como trampolim para se mitigar esse famigerado desnível social, a falta de acesso, naturalmente por conta de dívidas históricas de apoio às camadas mais pobres da nossa sociedade, que já nasceram estigmatizadas e preteridas de seus direitos, não raro, por conta de sua etnia. Muitos são contra a todo e qualquer incentivo do Estado às camadas mais vulneráveis da sociedade, como se fosse um favor que não se quer fazer. Não se trata disso, e sim de reparar. Reparar espoliação, em especial do hediondo regime escravocrata, onde o Brasil foi o último país do mundo a deliberar contra, ainda que saibamos que desde lá o contrabando não deixou de acontecer, e até hoje se tenta reviver esse regime de servidão, com, a todo tempo, libertação de pessoas em situação análoga à escravidão.
Outro ponto que muito se levanta nessas resistências às políticas públicas, em geral de fácil discurso em boca de político e a negativa na dos nonsense, é que sempre levantam o número crescente de drogados, que em suas palavras “querem viver às custas do governo”. Ora, se a ciência sabe que se trata de doentes, por que realmente não se tem política séria para essas pessoas? O que querem, em geral, esses gestores, é tirar da vista esses doentes, que não precisam de borrachadas nos ombros, mas assistência sociomédica séria, com princípio, meio e fim.
Não é, por fim, favor de nenhum eleito democraticamente a implementação de políticas públicas que, ao exemplo do Bolsa Atleta, que nos rendeu honrosa posição no campeonato mundial, é dever de Estado escrito no texto da Carta Magna, prerrogativas fundamentais de todo e qualquer cidadão brasileiro.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br