Entre os anos de 1700 e 1800, este período passou a ser chamado de Século das Luzes. Isso se deve ao fato de ter sido marcado pelo Iluminismo, um movimento intelectual, filosófico e cultural que valorizava a razão, a ciência e o conhecimento como formas de iluminar a mente humana, afastando-a da ignorância, da superstição e do autoritarismo religioso e político.
Ao lado disso, surgiu uma ideia de homem como ser racional e universal, e junto a ela, a própria noção de humanidade — que nasceu do entendimento de que todos os seres humanos formam uma só espécie, destinada a um mesmo caminho de civilização, liberdade e progresso. Assim, o humanismo abraça uma espécie de singularidade coletiva: somos únicos, mas pertencemos a um todo, a serviço pessoal e geral da liberdade, da felicidade e da justiça.
No entanto, quando vejo pelas redes sociais as reações diante desta nova frente de guerra — Israel e Irã — e pessoas proclamando Deus como um senhor que dizimará os não escolhidos, ou evocando uma suposta “vontade de Deus”, eu fico realmente horrorizado. Não se trata de lados — precisamos superar esses bipartidarismos tacanhos e reducionistas, que empobrecem nossa capacidade de reflexão. Trata-se de humanidade: de, diante de uma guerra, aceitarmos que mortes serão inexoráveis — e que essas mortes, muitas vezes, nada têm a ver com o que decidem os tais senhores da guerra.
Qualquer tentativa honesta de refletir sob a égide do humanismo — ou mesmo de um sentimento religioso autêntico — não pode, de forma alguma, concordar com qualquer guerra. Essas falas que misturam Deus com derramamento de sangue não têm relação com princípios religiosos verdadeiros, mas sim com compreensões distorcidas, enraivecidas, sobre o que significa invocar o nome do Senhor diante de um conflito armado.
Parece que essas pessoas viajam de volta à Idade Média, à época em que o papa Urbano II abençoou espadas para a primeira incursão das Cruzadas, matando em nome de Deus, em nome da morte dos “ímpios”. O Iluminismo nos trouxe a visão de uma formação coletiva da sociedade — não a supremacia de um indivíduo ou de um grupo qualquer.
Fico com o conceito de João, em 1 Jo 4,16.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS e o jornal atarde.