Lamentavelmente, o Brasil sempre cultivou um certo orgulho por ser o país do oportunismo, onde “levar vantagem em tudo” é sinal de esperteza, não de tolice. Não é otário, é esperto. Foi com essa mentalidade que Walt Disney, em visita ao Brasil em 1941, encantou-se com as piadas e histórias sobre a astúcia dos cariocas. O resultado foi o lançamento, em 1942, do personagem Zé Carioca. Não sei se foi ali o início de uma espécie de institucionalização do enganador, do mentiroso, do malandro. Mas é fato que essa figura ganhou espaço e simpatia ao longo do tempo, muitas vezes romantizada como símbolo da “malandragem brasileira”.
Quem não se lembra da famigerada “Lei de Gérson”? Tornou-se uma expressão popular que perdura até hoje, simbolizando uma atitude que desafia os princípios éticos. A origem remonta a um comercial de cigarros dos anos 1970, no qual o jogador Gérson afirmava preferir produtos que lhe dessem vantagem. A frase virou símbolo de uma cultura que valoriza o proveito próprio acima da honestidade.
É um processo social triste. A mentira, nesse contexto, passa a se impor como uma espécie de código de conduta para quem deseja vencer disputas verbais ou alcançar o que cobiça, a qualquer custo. Tornou-se, nos tempos atuais, um instrumento sórdido de desconstrução de pessoas, instituições e dos próprios valores que sustentam o Brasil enquanto sociedade.
Hoje, a mentira é recurso usual na comunicação social, carregando consigo a desinformação e a preguiça intelectual – uma recusa sistemática à análise crítica do que nos é apresentado. Assim, os indivíduos passam a aceitar, com naturalidade, a lógica da hipocrisia, do fingimento e da exploração do outro. O campo político, em especial, está profundamente contaminado. Combater a mentira tornou-se tarefa árdua, pois ela perdeu o constrangimento, a coerência e qualquer forma de inibição. A mentira, lamentavelmente, tem vencido. E essa é uma das grandes verdades do nosso tempo.
Vivemos sob o arcabouço entorpecente das palavras enganosas, de fatos fabricados que anestesiam o pensamento crítico. Alimentam-se bolhas sociais que – só Freud talvez pudesse explicar–se agarram a conceitos e interpretações que não condizem com a realidade, mas que servem aos interesses dos contumazes estelionatários de fatos e acontecimentos.
No entanto, é preciso lembrar que toda cultura é também passível de transformação. Se a mentira tem vencido, é porque a verdade tem sido negligenciada – não por falta de força, mas por falta de compromisso. Recuperar valores como ética, honestidade e responsabilidade coletiva não é tarefa apenas das instituições, mas de cada indivíduo.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS e o jornal atarde.