Estamos vivendo uma época em que os vínculos mais íntimos estão sendo corroídos por algo que deveria ser apenas parte da diversidade natural das relações humanas: a diferença de opinião. É profundamente absurdo — e ao mesmo tempo revelador — que famílias inteiras tenham se afastado, amizades de décadas tenham sido desfeitas e laços afetivos tenham sido rasgados por conta de posições políticas divergentes. O que estamos presenciando é mais do que um conflito ideológico. Trata-se de uma falência relacional, um esvaziamento do espaço do afeto em favor de um campo de batalha simbólico, onde cada um defende seu território com unhas, dentes e indignações. E o custo emocional desse embate não é pequeno.
Psicólogos como Regina Navarro Lins têm alertado para o impacto que essas rupturas estão causando na saúde emocional das pessoas: o aumento de quadros de ansiedade, depressão e isolamento social tem sido notado em consultórios. Muitos pacientes relatam a dor de não poder mais visitar seus pais ou irmãos, de terem sido bloqueados por amigos de infância, apenas porque pensam diferente sobre governo, economia ou justiça. O que deveria ser debate se tornou rompimento. O que era diálogo virou trincheira.
Já a psicóloga Ana Beatriz Barbosa Silva, especialista em comportamento, destaca que o cérebro humano tende a buscar pertencimento, e quando esse pertencimento é ameaçado — ainda mais dentro da família ou de laços profundos —, o indivíduo se sente rejeitado, o que ativa mecanismos de defesa que alimentam mais polarização e ressentimento. É um ciclo vicioso: se machuca e se isola, e no isolamento, radicaliza.
Observador da natureza humana, não posso deixar de evidenciar o tamanho da distorção que estamos vivendo. A política, que deveria ser um campo de construção coletiva, virou um campo minado de desconfianças e fanatismos. Não é mais sobre ideias, é sobre identidades. Discordar virou ameaça, e o outro, inimigo. Mas quem perde com isso somos todos nós. Estamos trocando o valor do afeto pela ilusão da razão absoluta. Estamos entregando os vínculos mais valiosos à fogueira da intolerância. Não se trata de abrir mão de convicções, mas de lembrar que o amor, o respeito e o cuidado com o outro devem sempre vir antes de qualquer pauta.
Precisamos recuperar a capacidade de escutar sem odiar, de dialogar sem destruir, de amar mesmo na discordância. O verdadeiro absurdo não é pensar diferente, é deixar de amar por pensar diferente. Se não rompermos essa lógica, seremos uma sociedade cada vez mais solitária, violenta e emocionalmente doente. Ainda é tempo de recuar desse abismo.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS e o jornal A tarde.