Artigos

09h31

Marcha da Maconha

A discussão sobre a Marcha da Maconha retorna ao centro do debate jurídico brasileiro, agora no STF, que analisa a constitucionalidade de uma lei da cidade paulista de Sorocaba. Antes de tudo, deixo claro: sou contra o uso recreativo da maconha, ainda que favorável ao uso medicinal, comprovado e regulado. Mas a pauta aqui não é saúde — é liberdade.

O ministro Nunes Marques, em voto vencido até agora, sustentou que a proibição busca proteger crianças e adolescentes. A intenção pode ser legítima, mas a solução é equivocada. O julgamento virtual já aponta cinco votos a dois pela inconstitucionalidade, e o ponto central é cristalino: liberdade de expressão não admite meia porta aberta. O Brasil parece se encaminhar para um modelo preocupante de liberdade de expressão seletiva, distribuída conforme simpatias, moralidades, religião de uma parte da população, ou conveniências políticas. E isso não é liberdade. A Constituição garante um direito amplo, que não depende da aprovação do conteúdo por maiorias temporárias. Defender a liberdade só para aquilo que nos agrada é defender censura com outro nome.

Proibir a marcha não impede o consumo, impede o debate. E um país que teme debates dificilmente avança na construção de políticas públicas maduras, de uma cidadania plena. A democracia exige convívio com ideias incômodas. A alternativa é o silêncio imposto — sempre perigoso, sempre tentador para quem detém poder. A questão é simples e, ao mesmo tempo, decisiva: ou temos liberdade de expressão, ou não temos. Não existe versão “condicional”. O STF, neste caso, não julga a maconha; julga o futuro da própria palavra.

Também é preciso observar que decisões judiciais que restringem manifestações públicas acabam criando precedentes perigosos. Hoje a proibição recai sobre a Marcha da Maconha, amanhã pode atingir qualquer outro grupo que defenda mudanças na legislação, reformas impopulares ou visões minoritárias. A história mostra que a censura nunca começa pelos que estão no centro do poder — ela sempre começa pelas bordas, e vai avançando até atingir todos. Defender a liberdade agora, mesmo quando o tema não nos agrada, é a melhor forma de protegê-la quando o alvo formos nós mesmos.

Por fim, é fundamental que o Estado confie mais na sociedade e menos na lógica da tutela permanente. Um país que se pretenda democrático precisa apostar na educação, na informação e no debate público — não nas proibições. O STF tem, neste julgamento, a oportunidade de reafirmar que a Constituição não admite atalhos autoritários. Ao reconhecer a legitimidade da Marcha da Maconha como expressão política, de cidadania, a Corte não incentiva o uso da droga, incentiva a democracia. E democracia, como sabemos, exige coragem para ouvir até aquilo que preferimos não escutar.

 

José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS, Farol da Bahia e o jornal A tarde.

Rua Barreto Pedroso, 295 • Pituaçu • Salvador • BA • CEP: 41.741-030 • Brasil
Telefone: +55 71 3363.5538
E-mail: cidadedaluz@cidadedaluz.com.br
2016 - 2025. Cidade da Luz. Todos os direitos reservados.
Produzido por: Click Interativo - Agência Digital

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o nosso site e as páginas que visita. Tudo para tornar sua experiência a mais agradável possível. Para obter mais informações, consulte o nosso política de privacidade e nossa política de cookies. E para entender os tipos de cookies que utilizamos, clique em Opções. Ao clicar em Aceito, você consente com a utilização de cookies.

Aceito Opções

Definições

Queremos ser transparentes sobre os dados que nós e os nossos parceiros coletamos e como os utilizamos, para que você possa controlar melhor os seus dados pessoais. Para obter mais informações, consulte a nossa política de privacidade e nossa politíca de cookies.

O que são cookies?

Cookies são arquivos salvos em seu computador, tablet ou telefone quando você visita um site.

Usamos os cookies necessários para fazer o site funcionar da melhor forma possível e sempre aprimorar os nossos serviços.

Alguns cookies são classificados como necessários e permitem a funcionalidade central, como segurança, gerenciamento de rede e acessibilidade. Estes cookies podem ser coletados e armazenados assim que você inicia sua navegação ou quando usa algum recurso que os requer.

Gerenciar preferências de consentimento
Cookies de análise

Utilizamos softwares analíticos de terceiros para coletar informações estatísticas sobre os visitantes do nosso site. Esses plugins podem compartilhar o conteúdo que você fornece para terceiros. Recomendamos que você leia as políticas de privacidade deles.

Bloquear / Ativar
Google Analytics
Necessário
Cookies estritamente necessários

São aqueles que permitem a você navegar pelo site e usar recursos essenciais, como áreas seguras, por exemplo. Esses cookies não guardam quaisquer informações sobre você que possam ser usadas em ações de comunicação de produto ou serviço ou para lembrar as páginas navegadas no site.

Bloquear / Ativar
Site
Necessário