Estamos vivendo momentos de perplexidade generalizada, onde, muitas vezes, e infelizmente, nos acostumamos e banalizamos a nossa capacidade de reação e indignação, diante de tantos descalabros morais, em torrentes de mentiras, dissimulações que nascem generalizadas, mas muito bem aplicadas pelos senhores da política, em geral.
O Cinismo foi uma escola filosófica grega criada por Antístenes, seguidor de Sócrates, que propugnava pelo menosprezo às questões materiais e a toda sorte de pacto social para o bem comum, desconsiderando a dor alheia. Desviado, em parte, do seu sentido primeiro, hoje consideramos por cínicos todos aqueles que desprovidos de vergonha e de qualquer sentimento de respeito ao outro, faz da mentira pregada, em interpretação com aparente força de convencimento aos menos atentos, um instrumento para manipulações e falácias, que vários incautos acreditam como verdades absolutas. Muitos dos políticos são mestres nesta arte, mas também exercitada com grande desenvoltura por parte do empresariado e também muita gente tida como comum. No último domingo, no programa Fantástico, o presidente da Samarco mineradora se dirigiu ao povo brasileiro, pedindo desculpas. Não avalio a sua sinceridade, as suas desculpas, não guardo tal presunção, mas, por favor, desculpas?!!
O pedido deveria ser de reverente perdão, de pé, e se comprometendo de forma cabal a indenizar, a socorrer pessoas e a tudo que eles mataram. Seria o mínimo a se esperar, em face da tragédia descomunal que causaram, sem dúvida alguma, por ganância. Constatamos, no entanto, que por estas plagas tudo pode a quem tem muito dinheiro e não se sente fiscalizado, cobrado pela influência que possui. Já a presidente da república, permissa vênia, não satisfeita com a sua mitomania, ainda garante que o seu governo fará o Rio Doce melhor do que era antes da tragédia. Aí já é abuso do script político do engodo, do cinismo que tanto alimenta o ego dos presunçosos e arrogantes.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSal e fundador da Cidade da Luz
