Vi no BNews a informação de que “beijo gay em série da Globo movimenta a web.” E, continua: “A TV Globo exibiu, na noite desta quinta-feira (23), um beijo entre dois personagens gays da série ‘Sob Pressão’...”. Notícia oportuna, uma vez que o Supremo Tribunal Federal analisa a criminalização da homofobia. Independentemente, do vídeo e da notícia em si, os comentários foram sui generis. Foi o uso da palavra nojo para cá, nojo para lá, lixo, valores da família exaltados... Não tenho dúvidas que os opinadores nunca assistiram à série, inclusive porque passa muito tarde, quase às 23 horas.
Mas o que de fato me chamaram atenção foram os pais que evidenciaram com os seus comentários que não devem guardar controle algum sobre seus filhos, isso porque ao se indignarem com a cena de uma série que passa tarde da noite se esqueceram que os seus filhos (meninos e meninas) têm o que querem ver na palma da mão, literalmente, na hora que eles quiserem, sem que com isto pessoa alguma saiba. Não faz muito estava em um condomínio, quando vi uma roda de crianças, entre 10 e no máximo 14 anos, cercando um tablet em mãos de uma menina, isto mesmo: menina. Cheguei sorrateiramente por trás de todos e qual minha surpresa: estavam em um site de sexo, daqueles bem, digamos, enfáticos.
Os pais nem imaginam, porque só veem o que passa na TV aberta. Efetivamente, cabem aos pais o controle do que seus filhos assistem na TV, por onde navegam na web... Em razão do processo de educação, motivado pela pertinência, conveniência e até a religião esposada. É preciso, então, que se diga a esses pais que o mundo não está mais apenas na tv aberta. Será que eles não sabem disso? Mas, se assustar com um beijo entre dois homens, quando em horário mais acessível a garotada tem cantora de sucesso expondo seu corpo muitas vezes tão escancaradamente erotizado... Aí pode, é aceitável. Para ficar só nesse exemplo.
Guardo a idade de quem viu a tradicional família brasileira se escandalizando várias vezes com cenas de novela, e tudo foi seguindo o curso do novo, que sempre chega. Os meus contemporâneos vão se lembrar do choque da mudança do beijo cenográfico para o de língua.... Horror para muitos, que, ao seu turno, lembravam da “decadência da sociedade”. Parece que isso não muda, apesar de que tudo segue revendo conceitos e posições da sociedade.
*José Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Escreve para o BNews às segundas-feiras.