N ão há dúvidas que estamos vivendo um avanço muito grande no campo conceitual da sociedade, nos direitos de todos. Falo de uma espécie de transformação que vem ao encontro dos processos sociais e suas demandas, em uma espécie de grito dos excluídos. Assim, que nesse sentido caminham as reivindicações das conhecidas e chamadas minorias sociais, ainda que infelizmente incomoda a muitos que querem a manutenção de uma espécie de hegemonia social e de seus conceitos. Em verdade, não querem uma nova ordem, em termos de ajustes de conduta ao que aparece, buscam manter uma velha e já superada visão de mundo e da mecânica da sociedade.
Em um rápido exame das consequências decorrentes dessas transformações, que caminham em conceitos e teorias, mas nem tanto na prática, notadamente no âmbito do estado juridicamente organizado, percebemos uma dificuldade de resposta pronta aos que buscam a segurança de um Estado democrático de direito ágil e forte. Pessoas comuns e agentes públicos têm quebrado ou interrompido esse processo e quase nada reage, salvo a imprensa, em geral, provocada pelas redes sociais.
Nos últimos dias vimos casos de racismo estrutural, quase sem reação pronta do Estado. Precisamos romper esta cerca de vacilo no entendimento do que seja certo ou errado, senão, na visão ainda em assimilação da formação dos direitos civis gerais, perderemos como sociedade civilizada o viés do respeito e valorização de cada cidadão, independentemente de qualquer questão. A leis já estabelecidas precisam ser de fato empregadas, a fim de fazermos frente às tensões resultantes das oscilações de equilíbrio originadas por tais transformações. Tentam minimizar e ridicularizar os gritos dos ofendidos e ou atingidos por crimes, como os recentes casos de racismo contra mulheres negras no aeroporto e dentro de um avião.
Na terça-feira (24), em São Paulo, um homem atropelou um suspeito de furtar um celular e depois debochou nas redes sociais. O suspeito teria tomado o celular de um motorista de aplicativo e, ao tentar fugir, foi atropelado intencionalmente. O atropelador ainda no local, publicou, em seu Instagram, uma série de vídeos da vítima, com imagens do corpo debaixo do carro. Nas legendas, a frase: “Menos um fazendo o L”, em referência ao presidente Lula. Os crimes por discordância já saíram do campo das manifestações explícitas para as imaginadas, presumidas. É crime de qualquer forma, mas a situação social do assassinado fez o autor deduzir suas escolhas políticas. Horror tudo isso. A falta de freio do Estado fazendo avançar a barbárie. Nunca coube com tanta precisão os comentários dos nossos pais, quando se deparando com a violência de ontem, exclamavam: onde vamos parar?!
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br