A decisão anunciada pela Austrália de obrigar as plataformas digitais a impedirem menores de 16 anos de criarem contas e de removerem perfis já existentes, a partir de 10 de dezembro, reacende um debate urgente: até onde um Estado deve intervir para proteger crianças e adolescentes do ambiente digital? E, sobretudo, o que essa decisão revela sobre a negligência brasileira diante do mesmo problema? A medida australiana tem um ponto central: desloca para as plataformas — e não apenas para pais ou escolas — a responsabilidade de controlar o acesso infantil. O país também prevê multas milionárias para empresas que descumprirem a regra, algo que muda radicalmente o incentivo econômico dessas gigantes da tecnologia. Na prática, obriga-as a desenvolver mecanismos eficazes de verificação de idade, revisão de contas e monitoramento de novos cadastros.
Não se trata apenas de restringir. Trata-se de um reconhecimento institucional de que o modelo atual de redes sociais, orientado por métricas de engajamento, publicidade segmentada e algoritmos cegos, não é neutro — e que os impactos sobre crianças são profundos e, em muitos casos, danosos. A Austrália escolheu agir. Realmente, não vejo como solução, in casu, de Brasil, porque , infelizmente, somos o país das burlas. Porém, algo precisa ser feito, a sociedade organizada precisa se atuante. O Brasil vive no extremo oposto: aqui, crianças de nove, dez, onze anos circulam livremente por plataformas que operam segundo lógicas desenhadas para captura de atenção, estímulo compulsivo e exposição a conteúdos inadequados. O acesso é quase sempre feito sem supervisão, sem mediação, sem preparo emocional — e, em grande parte, sem qualquer responsabilidade das empresas sobre o que exibem ou estimulam.
A facilidade com que menores de idade criam perfis falsos, ignoram limites etários declarados pelas próprias plataformas ou circulam em ambientes de alta toxicidade digital revela um país que terceirizou completamente a proteção da infância. Os pais se sentem impotentes. As escolas, sobrecarregadas. O Estado, hesitante. E as redes sociais, confortavelmente lucrando. É verdade que legislar nesse campo é complexo. Mas a inação sistemática é ainda mais custosa. Enquanto democracias robustas discutem verificação de idade, limites operacionais e desenho ético de plataformas — ainda que com divergências — o Brasil permanece preso à lógica permissiva e à crença equivocada de que “a tecnologia se autorregula”. Já sabemos que isso é falso. Ao mesmo tempo, há um traço cultural brasileiro que agrava o problema: nossa tendência a substituir fatos por versões. Grande parte do debate sobre redes sociais no país é capturado por discursos ideológicos, por temores de censura ou por versões interessadas espalhadas pelas próprias plataformas. Assim, perdemos de vista a realidade concreta: crianças estão expostas a ambientes que reduzem autoestima, ampliam ansiedade, fomentam comportamentos autodestrutivos e as deixam vulneráveis a exploração, manipulação e violência simbólica.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS, Farol da Bahia e o jornal A tarde.