As mortes recentes dos americanos Charles Kirk, a congressista Melissa Hortman e o seu marido Max, a primeira amplamente comentada, não podem ser reduzidas a estatísticas da violência política contemporânea. Cada uma delas expõe um fenômeno mais amplo e preocupante: o da radicalização ideológica que transforma divergências em inimigos a serem eliminados. E ainda que haja narrativas distintas sobre os três episódios, há um fio comum: o extremismo que se arvora no direito de decidir quem deve viver ou morrer. Nesses casos os assassinatos são carregados de um discurso que entende o outro como inimigo que precisa ser parado.
Lá como aqui, as disputas se apoiam em distorções religiosas que assumem contornos de “guerra cultural” literal, onde a violência passa a ser concebida como ferramenta legítima de resistência. Kirk, que defendia um cristianismo político rígido, hostil a minorias sexuais e às pautas progressistas, passou a ser visto pelos seus como violento, símbolo a ser abatido. A lógica do ódio venceu o espaço do debate.
A tragédia de Melissa e Max Hortman, por sua vez, revela o avesso dessa mesma moeda. Eles foram mortos por um grupo vinculado ao nacionalismo branco, imerso na ideia de “purificação social”. No discurso de seus assassinos, a defesa de pautas inclusivas por parte dos Hortman – sobretudo nas áreas de educação e diversidade – era interpretada como ameaça direta ao projeto de uma sociedade homogênea e excludente. Nessa ótica perversa, as vítimas encarnavam o “inimigo interno” que deveria ser eliminado em nome de uma ideologia racista e autoritária.
É fundamental deixar claro: nenhuma dessas mortes encontra justificativa moral. A violência não corrige o que se considera um desvio ideológico, apenas abre um abismo ainda mais fundo. Por outro lado, quando Charles Kirk foi comparado a Martin Luther King Jr., a Oscar Romero ou a Dietrich Bonhoeffer, estabeleceu-se um paralelo equivocado. Esses líderes foram vozes universais pela justiça, pela igualdade e pela dignidade humana. Kirk, ainda que mereça ter sua morte repudiada com veemência absoluta, não se situava nesse mesmo campo histórico: sua trajetória estava marcada mais pela confrontação cultural do que pela defesa inclusiva dos vulneráveis.
O que precisamos compreender, entretanto, olhando para esses episódios, é que a radicalização de qualquer viés ideológico gera o mesmo resultado: vidas interrompidas, famílias destroçadas e a crescente da violência. Os crimes são dos executores, claro, mas há sim culpa de todo um clima social que naturaliza o
contrário como categoria política, e o mais execrável: lastreia-se, muitas vezes, em patamar religioso, sempre estimulados pelos que surfam nessa onda de torcida organizada para o mal.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS e o jornal A tarde.