No último fim de semana, um episódio insólito — e grave — marcou a Parada do Orgulho LGBTQIA+ em Belém. O vereador Zezinho Lima compareceu ao evento empunhando um cacetete, declarando que estaria ali para “fiscalizar” a presença de crianças e adolescentes. “Me poupe”. A cena, que em alguns círculos arrancou risos, está longe de ser motivo de graça. O gesto, mais do que uma excentricidade, é um sinal de ameaça que precisa ser levado a sério.
É fundamental compreender o que significa um representante eleito aparecer em um ato público, que celebra diversidade e direitos civis, armado com um objeto de caráter ostensivamente policial e punitivo. Ele empunhava um símbolo de coerção física. Não há neutralidade em sua presença. Quando um parlamentar se apresenta dessa forma, o que se projeta é intimidação — e, por extensão, a naturalização da violência como ferramenta política.
Ao justificar sua presença, o edil alegou preocupação com a participação de menores. Esse argumento, que se repete como bordão em discursos para cortes nas redes sociais, precisa ser confrontado. Crianças e adolescentes têm em seus responsáveis o direcionamento, a condução dos tutelados, não sendo, naturalmente, práticas criminosas. Esses menores têm direito a convivência comunitária, à cultura e ao lazer, assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Eventos de celebração da diversidade não são exceção. Questionar a presença de menores em uma parada LGBTQIA+ não é zelo, mas tentativa de estigmatizar um segmento social, reforçando preconceitos já arraigados.
A cena do vereador com um cacetete e rodeado por seguranças não deveria ser recebida como piada, porque não se trata de folclore político. Trata-se de um gesto simbólico que coloca em xeque princípios democráticos. Ao portar um instrumento de repressão em um ato de afirmação de direitos, o vereador envia uma mensagem direta: de que certos grupos da sociedade precisam ser “vigiados” e controlados. Isso fere frontalmente a noção de cidadania plena.
É preciso dizer com todas as letras: o gesto de Zezinho Lima não é um ato isolado, mas parte de um movimento mais amplo de políticos que se aproveitam de medos e preconceitos para projetar poder. A tentativa de transformar a proteção de crianças e adolescentes em justificativa para a exclusão de pessoas LGBTQIA+ é uma manipulação. E quando tal manipulação se materializa na forma de uma arma, o que se anuncia é a sombra do autoritarismo. Já passou a hora de exigir responsabilidade de nossos representantes. Não é aceitável que um vereador utilize sua posição para intimidar cidadãos em pleno exercício de seus direitos. Se há preocupação legítima com a proteção de menores, que se aponte caminhos construtivos, baseados em políticas públicas, não em gestos de força. A democracia pede vigilância — mas vigilância contra abusos de poder, não contra manifestações de liberdade.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS e o jornal A tarde.