Artigos

09h31

Eles não desistem

Eu custo a acreditar que recentemente a Constituição do Brasil aniversariou, último dia 05, e a cidade de São Paulo quebrando todo e qualquer princípio de respeito à laicidade do Estado brasileiro, faz um convite ao frei Gilson para conduzir uma celebração antes do show de virada de ano – Réveillon - na Avenida Paulista. Não é um gesto trivial. Ao contrário, é um ato que fere de maneira preocupante o princípio da laicidade do Estado — princípio este que não é detalhe, mas pilar constitucional da República.

Não se trata de intolerância religiosa, por eu ser de outra crença religiosa. Absolutamente. Nem de negar a importância da fé para milhões de brasileiros. O que está em jogo é o papel que o Estado deve desempenhar em uma sociedade plural: garantir a liberdade de crença e também a liberdade de não crer. Quando o poder público se associa institucionalmente a práticas de cunho religioso, está ultrapassando a linha que separa o público do confessional. E essa linha, uma vez borrada, é difícil de recuperar. Honestamente? Penso que a questão foi ideológica, não religiosa, mas de caráter político, considerando a retórica do clérigo. O argumento, no entanto, diz que se trata apenas de uma “oração”, de um gesto simbólico de agradecimento, é frágil e perigoso. É exatamente assim, com gestos aparentemente inofensivos, que se naturaliza a presença de um credo específico nas esferas oficiais. A laicidade não é posta à prova apenas quando há imposição aberta de uma fé; ela se desgasta lentamente, por meio de pequenos rituais legitimados pelo Estado, como se fossem neutros. Não são.

O réveillon da Avenida Paulista é um evento público, custeado com recursos de todos os cidadãos — religiosos e não religiosos, cristãos, umbandistas, espíritas, ateus. A presença institucional de uma celebração conduzidas por um líder religioso, a convite da Prefeitura, fere a neutralidade que o Estado deve manter diante da diversidade de crenças que compõem o país. Não há problema em que grupos religiosos celebrem a virada do ano em seus templos, ruas ou praças. O problema surge quando o poder público legitima uma expressão religiosa específica dentro de um evento oficial, transformando o que deveria ser uma celebração plural em um ato de conotação confessional-ideológica.

O que parece pequeno — uma oração, um agradecimento, um “momento de fé” — é, na verdade, a ponta de um processo de erosão constitucional. A laicidade não se perde de uma vez; ela se perde aos poucos, quando o Estado esquece que sua função não é representar nenhuma fé, mas garantir espaço para todas. Defender o caráter laico do Estado não é hostilizar a religião. É, justamente, proteger a liberdade religiosa — de todos. Quando o poder público escolhe uma voz religiosa, está dizendo, ainda que implicitamente, que algumas crenças têm mais espaço que outras. E isso, sim, é um atentado à democracia.

 

José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS e o jornal A tarde.

Rua Barreto Pedroso, 295 • Pituaçu • Salvador • BA • CEP: 41.741-030 • Brasil
Telefone: +55 71 3363.5538
E-mail: cidadedaluz@cidadedaluz.com.br
2016 - 2025. Cidade da Luz. Todos os direitos reservados.
Produzido por: Click Interativo - Agência Digital

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o nosso site e as páginas que visita. Tudo para tornar sua experiência a mais agradável possível. Para obter mais informações, consulte o nosso política de privacidade e nossa política de cookies. E para entender os tipos de cookies que utilizamos, clique em Opções. Ao clicar em Aceito, você consente com a utilização de cookies.

Aceito Opções

Definições

Queremos ser transparentes sobre os dados que nós e os nossos parceiros coletamos e como os utilizamos, para que você possa controlar melhor os seus dados pessoais. Para obter mais informações, consulte a nossa política de privacidade e nossa politíca de cookies.

O que são cookies?

Cookies são arquivos salvos em seu computador, tablet ou telefone quando você visita um site.

Usamos os cookies necessários para fazer o site funcionar da melhor forma possível e sempre aprimorar os nossos serviços.

Alguns cookies são classificados como necessários e permitem a funcionalidade central, como segurança, gerenciamento de rede e acessibilidade. Estes cookies podem ser coletados e armazenados assim que você inicia sua navegação ou quando usa algum recurso que os requer.

Gerenciar preferências de consentimento
Cookies de análise

Utilizamos softwares analíticos de terceiros para coletar informações estatísticas sobre os visitantes do nosso site. Esses plugins podem compartilhar o conteúdo que você fornece para terceiros. Recomendamos que você leia as políticas de privacidade deles.

Bloquear / Ativar
Google Analytics
Necessário
Cookies estritamente necessários

São aqueles que permitem a você navegar pelo site e usar recursos essenciais, como áreas seguras, por exemplo. Esses cookies não guardam quaisquer informações sobre você que possam ser usadas em ações de comunicação de produto ou serviço ou para lembrar as páginas navegadas no site.

Bloquear / Ativar
Site
Necessário